domingo, 7 de agosto de 2011

SONETO DE INTIMIDADE

Nas tardes de fazenda há muito azul demais.
Eu saio às vezes, sigo pelo pasto, agora
Mastigando um capim, o peito nu de fora
No pijama irreal de há três anos atrás.

Desço o rio no vau dos pequenos canais
Para ir beber na fonte a água fria e sonora
E se encontro no mato o rubro de uma amora
Vou cuspindo-lhe o sangue em torno dos currais.

Fico ali respirando o cheiro do estrume
Entre as vacas e os bois que me olham sem ciúme
E quando por acaso uma mijada ferve

Seguida de um olhar não sem malícia e verve
Nós todos, animais, sem comoção nenhuma
Mijamos em comum numa festa de espuma

            Vinicius de Moraes

2 comentários:

SOL da Esteva disse...

Caro Amigo

Este Poema está bem identificado com o passado, no Saltinho, e com a actualidade, na mijada das vacas.
Bem escolhido.
Parabéns

SOL da Esteva

paulo santiago disse...

Nesta actualidade,queria estar...
no Saltinho

Abraço

Paulo Santiago