A propósito de um mail, que ontem recebi de um amigo e camarada, e de que falarei no final, lembrei-me da minha vivência com Muçulmanos.
Foi durante a Guerra Colonial, na Guiné, que contactei com pessoas que professavam a religião islâmica. Foi um contacto forte, durou vinte e dois meses, vinte e quatro sobre vinte e quatro horas, ao ser colocado num
Pelotão Africano com trinta e sete militares, sendo vinte e seis Muçulmanos. Foi fácil a integração ? Posso dizer que sim, respeitava-os nas suas convicções, eles respeitavam as nossas-brancos cristãos-seis no conjunto.
Muitos dizem que são fanáticos e extremistas...aqueles com quem andei, não o eram...eram sim, crentes convictos.
Recordo operações durante o Ramadão, cerca de um mês, em que desde o nascer ao pôr do Sol, não podem comer, beber, e fumar ( sexo também interdicto, mas este, em operações, estava excluído fosse qual fosse a época do ano ). Era doloroso, nas progressões no mato, aguentar à volta de doze horas sem comer... beber água ? bebiam o mínimo possível, não aguentariam se o não fizessem. Sentia-me, de certo modo constrangido, porque eu e os outros cinco brancos, mais quatro negros animistas, íamos comendo ao longo do dia.
Chegados ao entardecer, quando instalávamos na mata para pernoitar, tiravam as botas e prostavam-se em oração, e várias vezes disse, se agora houver porrada vocês ficam descalços...
As rações de combate tinham alguns componentes à base de carne de porco, nesses eles não tocavam.
Todas estas situações eram, por mim, encaradas com a maior normalidade, e as relacções pessoais eram óptimas. Lembro-me do Mamadú Jau, um muçulmano dos mais convictos, que práticamente, me transportou às costas quando tive um colapso, soube depois, devido a uma baixíssima tensão arterial.
Voltei à Guiné em 2005, encontrei antigos militares que tinham estado comigo nos tempos da guerra...continuavam convictos na religião Islâmica, sem extremismos. Nas minhas deslocações, fui acompanhado pelo meu amigo SB, que há poucos dias me telefonou de Bissau a comunicar-me a sua ida a Meca neste ano de 2011, além da sua actividade profissional, é clérigo.
Mas aparecem sinais preocupantes
Em 2008, quando voltei à Guiné, comecei a notar hostilidade extremista, ou fundamentalista, logo em Marrocos quando, na última noite neste País, numa espelunca chamada de hotel, em pleno Sahara, um tipo, aspecto talibã, lançava perigosos olhares vendo o que comíamos, e principalmente...bebíamos.
No dia seguinte, fronteira da República Islâmica da Mauritânea, mais uma complicação com um tipo fardado, militar ou polícia, não sei. Sabíamos que não se podia entrar com bebidas alcoólicas naquele País, assim sendo, as latas de cerveja (bastantes), íam camufladas. Passou-se a primeira barreira ( claro com ajuda de "prendas"), mas seguiu-se outra barreira, e aqui, apareceu um fundamentalista, meteu-se no carro onde eu ía, e descobre uma palete de cerveja...queria descarregar todos os carros, estava agressivo, mas
acabou por desistir a custo da ideia com a colaboração dos colegas. Na passagem por Nautchok, imensas burkas!!!
E voltei a ver burkas em Bissau!!! na zona de Bandim, num dia que acompanhava o meu amigo SB numa saída a Quinhamel. Notando que aquela visão me chocara, explicou-me: oh Santiago ! estás a ver são só seis, a minha mulher, que conheces bem, nunca usará isso, são uma minoria pertencente a uma pequena escola que aí existe,vinda da Mauritânea...
Cheguei ao mail enviado pelo meu amigo e camarada
Esta é uma foto de Asia Noreen mais conhecida por Asia Bibi, uma camponesa do Pakistão, condenada à morte por enforcamento!!! É cristã!!!
A causa para o enforcamento é um crime, uma barbaridade...acusada de ter usado,para beber água,o mesmo púcaro,utilizado pelas suas companheiras de trabalho,muçulmanas, cometeu "blasfémia" acusam as autoridades do País que dava guarida ao Osama Bin Laden.
A história que pode ser lida em http://pt.wikipedia.org/wiki/Asia_Bibi chocou-me (não conhecia ),por ser cristão, e por ter conhecido, e conhecer muçulmanos, que não são assim bárbaros e assassinos.
1 comentário:
Paulo
A tolerância sempre foi o Caminho da Harmonia e da Paz.
O Fundamentalismo, o Racismo e o Extremismo, criam ódios e intolerâncias que são difíceis de controlar.
Viveste, na Guiné, a parte em que estes últimos pressupostos não existiam.
Isso, Amigo, era a Pátria e não a Religião que falava.
Depois, as amplas liberdades, um pouco por todo o lado, nos impuseram o habito de ver o que condenamos, mas vamos, complacentemente, deixando correr.
É pena que os valores Morais se tenham deteriorado tanto!
Abraços
Santos Oliveira
Enviar um comentário